É bastante comum recebermos demandas de coaching executivo referentes ao desenvolvimento de relacionamentos e que em geral têm como base três possíveis fatores: a informalidade excessiva, a agressividade excessiva e a arrogância excessiva.
Mas, por que será que esses fatores impactam nos relacionamentos? Porque, dependendo da adequação ou não a um contexto, eles podem representar ameaças ao cérebro, gerando aquele velho e bom movimento de bater ou correr que acontece quando nossa cachola vê um risco vindo pela frente.
Veja, se considero alguém muito agressivo, naturalmente percebo um perigo iminente, o que afeta a sensação de ameaça do meu cérebro. De forma semelhante, quando me relaciono com alguém que parece arrogante, tenho meu status ameaçado, o que igualmente representa uma ameaça para o cérebro. E, por último, dependendo de minhas referências pessoais, alguém excessivamente informal pode me dar a sensação de desrespeito, o que também traz a tal da ameaça e consequentes reações automáticas.
E qual o impacto disso? Fissuras ou quebras de aliança e, consequentemente, impacto na própria produtividade!
Uma coisa importante de lembrar é que, para se formar novos hábitos, competências e memórias, acontece o que chamamos da formação e consolidação conexões ou caminhos neurais. Esse processo será tão mais forte, rápido e eficaz quanto mais estímulos forem gerados sobre uma mesma experiência, o que é especialmente verdadeiro quando existem emoções associadas. Por isso lembramos tão melhor de algo pontual que foi particularmente gostoso ou ruim, do que aquele conceito técnico sobre um assunto que não gostamos mais vimos várias vezes.
Voltando para o trabalho sobre relacionamentos e considerando os três pontos – agressividade, arrogância ou informalidade – é natural lidarmos com pessoas que têm uma essência e um histórico de vida muito próprios, que construíram essas características ao longo do tempo, inclusive muitas vezes sobre crenças de base, seja com relação ao que dá resultado, o que é adequado, o que demonstra verdade, própria capacitação versus dos outros, dentre inúmeras outras que poderia colocar aqui. Nesses casos, vale aquele raciocínio do iceberg: o que penso define como me sinto, que define como ajo, que me aproxima ou distancia dos resultados que almejo. Assim, dependendo das crenças que estão lá na base do meu iceberg, surge o gatilho para o comportamento agressivo, arrogante ou informal.
Agora, um aspecto muito curioso que aparece com muita frequência nesses processos de desenvolvimento é a educação como uma porta de saída. Mas por que será?
Olha… em minha experiência não conheço alguém que não queira ser visto como uma pessoa educada, sofisticada, elegante e com etiqueta, e, como é algo que as pessoas normalmente desejam, fica fácil de se focar em construir! Se algo faz sentido para meu cérebro, fica mais fácil ser consistente, especialmente porque deixo de focar em ‘não ser’ agressivo, arrogante ou informal e passo a buscar exercitar a elegância e a etiqueta dentro de minha essência! E, lembrando do que falei antes, se existe emoção associada, o novo caminho neural será mais rapidamente criado e consolidado.
Aqui vale a pena uma observação. Normalmente as pessoas confundem etiqueta com se vestir bem, parecer superior e ter mais, o que é uma tremenda falácia! Apesar de meu conceito pessoal sempre ter sido o que colocarei a seguir, cito uma referência de renome para corroborar o que penso, que é a Glória Kalil. Uma vez a escutei dizer que a verdadeira etiqueta está em sabermos fazer as pessoas se sentirem bem a respeito de si mesmas – e isso vale para quando recebemos alguém, quando vamos a uma festa, no trabalho ou onde quer que seja. Afinal, ou a pessoa tem etiqueta, ou não – independentemente do lugar em que está.
Assim, pensando no que verdadeiramente é educação, sofisticação e elegância, qualquer pessoa pode usar isso a favor dos relacionamentos. Afina, você pode ser alguém mais diretivo… de forma educada e elegante! Você pode se considerar ‘mais’ ou gostar de mostrar suas qualidades… com etiqueta! Você pode ser mais informal… com sofisticação.
Essa dica vem com um pouco de ciência e um pouco de experiência pra que possa testar a partir de hoje, independentemente do nível de sua liderança. Quer melhorar relacionamentos, mesmo a partir de sua essência talvez mais agressiva, arrogante ou informal? Seja educado!
É isso aí.