Estava num cliente fazendo um encerramento de um processo e em determinado momento ele me perguntou o que estava errado em sua gestão, pois havia uma posição de sua equipe em que as pessoas não paravam.
Para esclarecer, esse cliente é um gestor numa Editora e quem conhece o meio editorial sabe que existe um desafio grande entre metas comerciais, prazos para produção e publicação e parte artística e de redação. Enquanto o comercial precisa vender – tendo de ser flexível para atender os anseios do cliente até os 45 do segundo tempo –, o pessoal de redação e arte precisa criar algo novo, bonito, inteligível, marcante… o que depende de inspiração, antecipação e precisão. Deu pra sentir o drama do conflito entre essas duas frentes?
E se essa é uma realidade numa Editora, é também na maioria dos negócios, pois sempre existem interesses complementares, mas muitas vezes antagônicos e, sem visão sistêmica – a capacidade de enxergar o todo e o efeito de cada parte sobre ele –, fica difícil conciliar essas realidades.
O fato é que na conversa com meu cliente pensamos nessa dinâmica sistêmica, mas também na mentalidade que cada tipo de profissional pode ter – seja por propensão natural, seja pela formatação do meio. E, com base nisso, vou compartilhar um pouco do que sei considerando pelo menos dois tipos de benefício: 1. que os profissionais percebam suas próprias mentalidades e aprendam a trabalhar produtivamente com elas; 2. que as companhias considerem tais mentalidades e formatos para decidir como trabalhar recrutamento e desenvolvimento.
Vamos lá. Nossa memória é formada ao longo de toda vida, com base nas experiências que vivemos e processamos racional e emocionalmente. Isso, percebido e interpretado pelo que já existe dentro de nossa cachola, vai formando nossos hábitos (tanto o fazer como o pensar) e compondo nossa identidade. Assim, dependendo da natureza do que faço na vida, minha identidade vai ser profundamente influenciada, o que envolve minha forma de pensar, meus valores, minha forma de interagir, e por aí vai.
Um artista, por exemplo, em geral aprende que criatividade é algo valioso, e que arte só é arte quando feita com autenticidade, cuidado e preciosismo. Quando um artista se vê pressionado para atender metas e briefings comerciais, é natural que não saiba lidar bem com aquilo – pois sua mentalidade foi formatada de maneira diferente.
E assim como no caso do artista, cada profissão, cada tipo de atuação, nutre diferentes tipos de mentalidades… e há muita expectativa frustrada quando não se entende isso, pois pessoas com diferentes mentalidades esperam respostas iguais às que teriam – isso não faz o menor sentido… é como um gato esperar que um cachorro mie – simplesmente não vai acontecer!
O bom é que, como somos humanos, a nós foi dada a capacidade de aprender novas habilidades, desde que se tenha em mente aqueles 4Cs que já trouxemos em textos anteriores (Consciência, Consistência, Cadência e Coração). O artista, por exemplo, pode desenvolver uma visão sistêmica entendendo as diferenças entre as partes e como isso afeta o todo; ou pode aprender também o valor de saber criar arte pensando numa demanda específica, e por aí vai.
No caso de meu cliente, pensamos em duas possibilidades que trariam uma mentalidade complementar à do artista: contratar um fornecedor externo, que tem uma mentalidade de empreendedor, ou alguém que trabalhasse com finalização e talvez menos ligado na parte autoral da arte.
E com base no exposto, deixo algumas reflexões abaixo:
-Se você tem tido dificuldades para conciliar ou gerenciar interesses antagônicos, que tal considerar as diferentes mentalidades para pensar em planos mais eficazes?
-Se você desenvolve pessoas, qual seria o valor de entender as diferentes mentalidades para complementar a formação dos indivíduos?
-Se você recruta, além de avaliar o indivíduo, como seria lembrar do tipo de mentalidade que a área desse indivíduo tende a formar?
Aprenda a ler e considerar as diferenças e siga para um futuro muito mais eficaz.
É isso aí!