Neste texto vamos explorar um pouco as diferenças sutis, porém fundamentais, entre uma cultura de retrabalho e uma de ajustes, bem como qual a forma de se trabalhar a partir das diferentes perspectivas.
O que é retrabalho? Retrabalho é o que acontece quando há existência de alguns elementos num determinado contexto coletivo que culminam em processos confusos e/ou falhos e resultados indesejados, o que por sua vez leva à necessidade de se refazer aquilo que já foi produzido. Com isso se perde tempo, recursos, produtividade e motivação das pessoas envolvidas.
O retrabalho pode acontecer quando existem alguns fatores, como por exemplo:
- A falta de direcionamento ou o direcionamento mal feito, havendo falta de clareza quanto a expectativas, contexto, informações, direções, causa e consequência, etc. Quando algo parte de um indivíduo que será conduzido por outro e não há assertividade e clareza nessa direção, todo resultado será possível, não é mesmo?
- Falta ou descuidado de alinhamento de entendimentos. Afinal, temos de lembrar que os cérebros são diferentes e filtram/percebem informações de formas totalmente individuais. Aliás, simples palavras que consideramos absolutas como ‘reconhecimento’, por exemplo, podem ter conotações diferentes para pessoas distintas, bem como conceitos como ‘grande e pequeno’ podem ter significados descasados para duas pessoas.
- Má comunicação. Aqui temos um ponto que envolve os dois anteriores, mas vai muito além… vale ler o meu livro Comunicação que Transforma para perceber todos os efeitos desse ponto, ou mesmo ver outros materiais da R122 sobre o tema.
- Planejamentos rígidos de longo prazo que se propõem a prever tudo (como se fosse possível) e têm de ser seguidos a risca, não importa o que aconteça de imprevistos, aprendizados e mudanças ao longo do caminho.
- Cultura da culpa. Aquela que faz com que todo e qualquer erro ou deslize gere a busca por ‘culpados’ que possam ser criticados e sobre quem recairá a responsabilidade pelos imprevistos. Veja, nessas culturas tende a existir várias consequências, como a limitação criativa, a falta de abertura para assumir riscos (mesmo que calculados), a falta de autorresponsabilização e a limitação do aprendizado – pra dizer no mínimo.
Paralelamente a uma cultura que acaba privilegiando o retrabalho, podemos desenvolver uma cultura de ajustes, que num conceito mais raso pode parecer semelhante, mas na realidade tem diferenças viscerais.
E o que é ajuste? Ajuste é o que acontece quando, a partir do avanço de um projeto, da aplicação prática de um plano ou algo do gênero, há abertura para que aprendizados sejam integrados ao processo de avanço; como também para que eventuais percalços ou obstáculos sejam corrigidos; erros sejam consertados; lapidações sejam feitas; e novidades sejam incorporadas. Neste tipo de cultura não há perda de tempo nem de produtividade, mas ganho consistente e contínuo de velocidade, qualidade e robustez.
Nesta cultura há alguns elementos presentes, como por exemplo:
- Direcionamentos claros quanto a propósitos, resultados, métodos, expectativas, etc.
- Alinhamento de entendimento, especialmente em frentes mais relevantes e/ou de maior impacto.
- Cuidado com a comunicação interpessoal.
- Planos mais inteligentes, os quais são preparados com toda informação, projeções e diligência cabíveis, mas onde também há flexibilidade para fazer todos os ajustes que se fizerem necessários a partir dos aprendizados.
- Cultura de aprendizado e exploração. Nesse ambiente, claro que é importante entender os erros, as falhas e aprender com elas, também tomando medidas relacionadas a pessoas quando for o caso. Mas a regra não será de forma alguma focar em encontrar culpados, mas necessariamente em se aprender com as experiências e focar também na exploração e avanço.
Assim, enquanto na cultura do retrabalho há a volta ao passado, no ajuste há continuidade a partir do que já foi avançado, e isso tem muita relação com o que hoje vemos crescentemente sendo adotado como cultura ágil e que é facilitado por um líder completo, que usa ferramentas de coaching para liderar sua equipe.
É muito importante entender as diferenças entre esses termos porque, quando o líder está em ação, será inevitável acontecer imprevistos e ajustes serão necessários, inclusive para que o processo de melhoria nunca finalize. Mas… o retrabalho é algo que não deve acontecer! Ele tira produtividade, traz frustração, tira motivação, entre tantas outras consequências indesejadas.
Agora vem o convite à reflexão. E você? Tem gerado uma cultura de ajustes ou retrabalho… e que ajustes importantes podem ser feitos desde já para caminhar de forma mais inteligente?
É isso aí.
Juliana de Lacerda Camargo é especialista em transformação de líderes e organizações. Possui mais de 20 anos de experiência com pessoas, gestão e liderança. Fundadora da R122. Managing Partner da C4TL Brazil. Consolidada experiência em processos de desenvolvimento com executivos e líderes, bem como treinamentos, workshops e palestras sobre desenvolvimento humano, liderança, neurociências e comunicação – no Brasil e exterior. Autora de Avançando para o Alvo e Comunicação que Transforma.