As pessoas normalmente compreendem muito bem um conceito da Terapia Cognitivo Comportamental que fala mais ou menos assim:

Aquilo que eu penso define como sinto, que define como ajo, que culmina em resultados.

Esse fluxo é também conhecido pelo Modelo do Iceberg:

-Os pensamentos e sentimentos estão submersos, correspondem à maior área do iceberg, e geralmente não são vistos por quem está de fora.

-As ações estão no limiar da água e algumas são vistas, outras não.

-Já os resultados estão lá no topo e são vistos por todo mundo.

Aliás, diz-se que o Titanic afundou por causa do tamanho do ego do capitão do navio – o verdadeiro iceberg. E daí tiramos uma conclusão bem simples: a forma como vejo o mundo é fundamental para influenciar tudo que vem a seguir.

Explico melhor. Você conhece a estória do pneu furado?

O cidadão viajava numa estrada deserta e seu pneu furou. Apesar de hábil e forte o suficiente pra lidar com a situação, quando abriu o porta-malas o macaco não estava lá. “E agora?”, pensou. Foi quando olhou para os lados e avistou uma casinha bem longe, decidindo ir até lá para ver se poderiam ajudar.

Trancou o carro, pegou sua mochila e começou a andar… “Puxa, que sol forte… vou chegar bem suado lá… Hummm, que chato. Será que eles vão ficar incomodados com minha aparência? Bom, mas eles têm de entender que andar nesse sol forte dá isso. Mas… por que alguém andaria por aí e chegaria à casa deles? Nossa, se fosse comigo talvez eu ficasse com medo. Imagina, no meio do nada alguém aparece suado, acabado… isso me lembra um filme de matador em série que vi uma vez. Será que vou chegar lá e eles vão reagir mal? Será que têm alguma arma e podem atirar em mim?…”

E enquanto todo essa narrativa acontecia na cabeça fértil e quente do cidadão, lá chegava ele à soleira da porta da pequena casinha… e continuou…

“Ah, uma casinha pequena dessa no meio do nada; certamente eles terão um macaco. Mas, e se eles acharem mesmo que sou alguém mal intencionado e não quiserem nem abrir a porta? O que vou fazer? Será que andei tudo isso pra nada? Ah, que gente preconceituosa! Onde já se viu não querer emprestar um macaco por causa da aparência de alguém!!! Acho que essas pessoas precisam é de uma boa lição!!!”

E foi quando a portinha da casa se abriu e apareceu um casal simples com um sorriso no rosto, a quem o cidadão respondeu:

“Vocês estão de brincadeira que acham que sou um bandido!!!! De verdade, não preciso de um casalzinho de meia idade que mora no meio do nada pra me ajudar! Eu me viro!!!!” – e saiu batendo os pés no chão seco… com sede, calor… e sem o macaco pra consertar seu pneu!!!

Pois é. Ainda que essa seja só uma estória, coisas assim acontecem todos os dias – com nossa família, com amigos, no trabalho… e realmente nos relacionamos e tomamos decisões com base no que pensamos. É como se acreditássemos que existem fantasmas e nos relacionássemos com eles. O problema é que, como no caso da estória, reagimos às vezes a meras sensações – ou aos fantasmas – e não à realidade como ela é, e criamos novas realidades como consequência direta dessas sensações. Mudamos de emprego por conta disso, terminamos relacionamentos, mudamos de direção, desistimos muitas vezes…

E justamente por ser algo sério e comum, quero pedir que dê uma pausa agora e pense na sua própria vida. Quantos desconfortos você está vivendo hoje? E quais desses se baseiam em sensação e quais em fatos reais? É possível que você se surpreenda com a resposta… Que risco será que corremos em tomar decisões e reagir com base apenas em sensações? Não digo as intuições que nos ajudam a avançar, mas as sensações que nos geram interpretação errada das pessoas, das coisas, das situações…

Nosso cérebro é incrível. Ele cria grandes histórias com base em nossos filtros, medos e histórias de vida. Mas você ganhou a capacidade de questionar seus próprios pensamentos e trabalhar de forma inteligente com eles. Relacionar-se com o fato, e não com a sensação, pode ser muito mais eficaz, não é?

Então, deixo aqui uma sugestão simples para refletir e agir: essa pode ser a hora de parar de caçar fantasmas e começar a lidar com a realidade como ela é!

É isso aí.

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