Conversava com um cliente a respeito do mundo VUCA (acrônimo referente, em português, a Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo).

Esse cliente tem sua formação numa área técnica de pesquisa médica e hoje é um dos Diretores de uma consultoria de negócios voltada ao mercado farmacêutico.

Falávamos sobre como o iceberg dele (pensamentos => sentimentos => ações => resultados) tem mudado a partir da mudança de um contexto mais cartesiano e previsível (mundo acadêmico) para o ambiente VUCA que representa o mundo de negócios.

Até começarmos a trabalhar juntos, sem perceber esse cliente tinha mantido muito do modus operandi próprio do meio acadêmico… o que estava gerando frustrações tanto pra ele como para seus sócios. Enquanto ele buscava o que conhecia – rigidez de fluxos, procedimentos e formas de fazer -, seus sócios buscavam algo mais fluido e ‘retroalimentável’ (se é que essa palavra existe). À medida que foi avançando em sua autopercepção e uma análise mais pragmática do mundo externo em que hoje está, se deu conta das características do ambiente e o quanto era importante que ele também se adaptasse a isso.

Aliás, mais do que isso, ao ter essas percepções saímos um pouco da rota, questionando o que poderia ser diferente no próprio mundo acadêmico se houvesse uma mudança de cultura para comportar componentes mais subjetivos e variáveis. Sua resposta foi muito interessante… primeiro ele disse que na sua época como pesquisador tinha um grande amigo que usava componentes subjetivos em seus trabalhos, e que isso não era tão valorizado naquele ambiente. Depois de algum tempo, enquanto alguns profissionais que conhecia ficaram onde estavam e outros mudaram até de carreira, aquele seu amigo havia sido convidado para um importante cargo no governo. Coincidência? Talvez não… e só esse parágrafo daria todo uma nova reflexão, sobre entrar no piloto automático e ‘fazer porque é assim que é feito’, sabe? Mas isso fica pra próxima…

O fato é que o mundo muda – o tempo inteiro. O fato também é que toda vez que mudamos de contexto, novas exigências nascem, mudando nosso próprio universo.

Talvez você se lembre das aulas de biologia e do termo homeostase. Por causa dela os organismos mudam suas condições internas para se adaptarem às mudanças externas, mantendo o equilíbrio fisiológico que possibilita a própria vida. É por isso que suamos… é por isso que temos sede… é por isso que vamos ao banheiro… é por isso que temos fome. Sem os ajustes do mundo interno às variações do externo, a vida se torna impossível.

E se isso é verdade na fisiologia, é verdade também no comportamental e na carreira!

Pense só nas vezes que viveu ou viu alguém que veio de uma cultura corporativa onde era extremamente bem-sucedido e, ao chegar num novo ambiente, viu seu desempenho, avaliação e autoconfiança serem abalados? Isso aconteceu porque não houve ‘homeostase comportamental’, a qual, diferente das funções fisiológicas automáticas, depende de nossa percepção, decisão e consciência – pra dizer no mínimo.

Inclusive, enquanto a ‘homeostase fisiológica’ é ativada a partir de determinados circuitos cerebrais considerados mais primitivos, a ‘homeostase comportamental’ está diretamente ligada às funções executivas de nosso cérebro, que são altamente complexas e principalmente ativadas no córtex pré-frontal. Ou seja, apesar de ambas serem extremamente necessárias, uma não depende de nosso querer, enquanto a outra sim!

Isso significa dizer que quando mudamos de contexto, precisamos nos abrir voluntariamente para perceber o diferente, aprender a partir dele e construir com ele, mesmo que lidar com o diferente seja tão incômodo pro nosso cérebro (veja no nosso blog o vídeo: “Por que é difícil mudar”). E, se o mundo é VUCA e saio de um contexto previsível e controlável, sem a ‘homeostase comportamental’ será muito difícil de sobreviver ali…

Aliás… nem precisa ser uma mudança tão radical assim. Outro dia conversava com outro cliente que sempre trabalhou na mesma área – industrial – e saiu de férias por 20 dias, após os quais seu gestor o comunicou que tudo havia mudado e que ele precisaria criar um plano geral de ajuste… após somente 20 dias…

Agora, depois da leitura desse texto, convido você a pensar como tem sido a sua capacidade de adaptação… Quanto você tem sido intencional para perceber as mudanças e demandas ao seu redor, buscando a ‘homeostase’ que o levará à vida como ela deve ser?

E, depois de refletir, convido você a completar a frase do título: Adapte-se ou vire…

É isso aí!

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