Neste texto trago um caso fictício baseado em diversas experiências reais que já passaram em meu caminho, o qual se refere à confiança que gera aliança, que por sua vez gera produtividade.

João e Maria trabalhavam juntos na XYZ, sendo Maria Diretora de Planejamento e João seu subordinado direto, um gestor sênior responsável por uma equipe numerosa e bem relevante para a organização. Ambos eram extremamente capacitados e constantemente bem avaliados em todas as competências relevantes para XYZ, mas infelizmente o trabalho conjunto deles vinha sofrendo algumas interferências…

Acontece que eles tinham funcionamentos diferentes, sendo João mais extrovertido e espontâneo e Maria mais introvertida e analítica. Além disso, também costumavam divergir em opiniões e aparentemente tinham questões internas mal resolvidas. Tudo isso foi gerando um cenário de crescente desconfiança na relação que foi ficando insustentável.

Por um lado, Maria não confiava que João aceitaria suas orientações, nem que ele compartilhava algumas informações relevantes com ela. Também tinha receio de chamar João para alinhamentos e constantemente suspeitava que ele viesse a desrespeitar sua autoridade, fazendo ‘bypasses’ ou confrontando-a publicamente. Por outro lado, João acreditava não poder contar com o investimento em sua carreira e crescimento, além de não conseguir ‘ler’ Maria e sempre desconfiar que ela retivesse informações e estratégias importantes a seu bom desempenho. Também desconfiava que ela realmente o escutasse e considerasse seus pontos de vista e sentia que ela não confiava nos dados e conclusões que lhe passava, como se fosse incompetente ou irresponsável.

Em reuniões que envolviam outras pessoas e compartilhamentos entre áreas, era nítido o desconforto de ambos, que ficavam constantemente tentando descobrir possíveis agendas ocultas por trás dos comentários ou esperando algum tipo de exposição desnecessária.

Assim estava a vida de João e Maria… ambos com leituras enviesadas gerando um abismo na relação.

Veja, quando o cérebro se distrai com movimentos de defesa pela sobrevivência, as funções executivas responsáveis por análises, planejamento, tomada de decisão, etc., ficam prejudicadas, uma vez que o sistema límbico ‘rouba’ os recursos cerebrais em busca da melhor resposta de autoproteção ao perigo identificado.

Assim, quando existe uma relação direta como de João e Maria, em que um depende do outro para realização de algo tão significativo como trabalho e carreira, não tem como evitar o impacto ‘executivo’ de toda desconfiança estabelecida na relação. E, não bastasse as interações entre eles serem estranhas e improdutivas, o estado de alerta constante em que se encontravam gerava um movimento de cascateamento para tudo mais que faziam.

Sendo o mais extrovertido da relação, aconteceu de João buscar o gestor de Maria para conversar sobre alguma solução, mas foi surpreendido pela seguinte resposta: “João, para de bobeira. Você não precisa ser o melhor amigo dela. Só precisa fazer seu trabalho direito”

Apesar de contrariado, não se deu por vencido e resolveu que buscaria algo diretamente com ela. Assim, primeiro parou para fazer uma autocrítica genuína, procurando entender quando e porque as coisas evoluíram daquela forma. Também olhou para dentro de si para compreender seus gatilhos, medos e reações indevidas, tudo a fim de estar munido para uma conversa com um único foco: a construção de uma nova fase no relacionamento – de confiança.

Ao procurar Maria, foi logo abrindo seu coração, trazendo suas leitura sobre o histórico, suas desconfianças, medos, gatilhos e impactos. Colocou-se numa posição de vulnerabilidade e transparência, sendo muito verdadeiro ao transmitir a mensagem de que estava ali para construir algo e não para acusá-la do que quer que fosse! Maria, por sua vez, sentindo-se segura naquele ambiente acabou se abrindo também, igualmente se focando na ideia de construir algo que pudesse acrescentar à vida de ambos.

Ao conseguir esclarecer os lados, nasceu uma empatia imediata e a consequente desconstrução das leituras equivocadas que ambos tinham das intenções alheias… Combinaram que, a partir dali, eles cuidariam da relação e um do outro, sempre conversando para aparar arestas e assegurar a aliança… e consequentemente a produtividade.

Curioso que, apesar de João não ter mirado na amizade, a partir daquela conversa eles viraram grandes amigos. Afinal, era inevitável que isso acontecesse, uma vez que se tratava de uma relação de confiança num ambiente tão significativo para ambos, certo? Além disso, como imaginavam, o que aconteceu impactou no clima da área, nas comunicações, bem como na produtividade, que inicialmente foi o gerador de todo movimento de João.

Ou seja, a confiança gerou aliança, que gerou produtividade. E, apesar de esse ser um ‘causo’ fictício, ele retrata algo que acontece com grande frequência nas organizações. Aliás, infelizmente a segunda parte – do realinhamento – não tende a acontecer… o que eventualmente pode gerar resultados bem indesejáveis para todo mundo.

E, para complementar, dentre tantos dados que suportam o que apresento aqui, cito um estudo de 2018 realizado por dois professores da Fundação Getúlio Vargas que mostrou que a confiança é fator significativo para aumento da produtividade.

Agora é pensar do seu lado. Como usar essa estória a favor da sua vida e seu ambiente de trabalho ou mesmo comunitário?

Lembre-se: bons relacionamentos no trabalho têm muito menos relação com abraçar árvore e muito mais com geração de produtividade.

É isso aí.

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