Hoje vamos falar sobre a diferença entre se desenvolver uma habilidade ou liberar espaço para que aquilo que já existe flua. Vamos entender melhor e começarei trazendo três pontos de base.

1. A neurociência explica a respeito de processos que podem ajudar ou atrapalhar a criatividade. Por exemplo, dentre eles se sabe que focar demais no problema não ajuda, pois o cérebro acaba se viciando em formas de pensar, modelos e mapas mentais (estruturas de conexões neurais que se tornam padrões de nosso funcionamento). A contrapartida desse ponto é que o cérebro precisa relaxar, sair do ambiente viciado para eventualmente fazer conexões diferentes e formar novos mapas e conexões neurais.

2. Complementarmente ao primeiro ponto, a neurociência ensina que nossas funções executivas (pensamento racional, planejamento, análise, tomada de decisão, etc.) competem com algumas áreas e sistemas, dentre as quais o sistema ascendente, que é mais automático e intuitivo, e responsável pelas associações livres que fazemos sem esforço. Assim, quando usamos demais o raciocínio lógico, analítico, planejamento, há uma diminuição da realização de associações livres (atuação do sistema ascendente), da espontaneidade do aqui e agora, bem como da criatividade.

3. Outra base que trago para esse texto é que Tim Gallwey, um dos precursores do coaching, criou uma fórmula onde: P (performance) = P (potencial) – I (interferência); sendo I referente às interferências internas do indivíduo – os medos, os traumas, os excessos de reflexão. Segundo essa fórmula, a performance do indivíduo só representará seu real potencial quando as interferências forem reduzidas a zero.

Dei esse embasamento para explicar que por vezes uma pessoa busca um desenvolvimento, quando na verdade talvez não se trate de desenvolver algo, mas sim de deixar que algo que já existe flua, o que poderia ser pela liberação do sistema ascendente, a redução das atividades das funções executivas ou diminuição das interferências, por exemplo.

Veja um caso real.

Tenho uma cliente que, ao começar um processo de desenvolvimento trazia uma grande necessidade de planejar, organizar, se preparar, sendo esse seu funcionamento padrão. Frente a isso, sua demanda inicial era desenvolver mais espontaneidade e capacidade de fazer associações de improviso para atender à grande quantidade de palestras e apresentações que dá como parte de sua atividade profissional.

O que foi muito bacana no processo foi descobrir que ela não precisaria desenvolver nada, mas apenas começar a fazer o que a neurociência explica.

Sem saber desses conhecimentos neurocientíficos ela se propôs a testar planejar um pouco menos, se embasar um pouco menos, mantendo-se num nível de aprofundamento, preparação e estruturação que avaliava necessários, mas tudo com mais leveza e com mais espaço para as conexões livres acontecerem (o sistema ascendente que falamos mais acima).

Qual foi o desfecho dessa história? Após um processo de dez reuniões essa cliente percebeu tanto que tinha uma grande capacidade para fazer associações livres, improvisar e criar coisas no momento necessário, como também descobriu um enorme prazer em fazer isso.

Pense um pouco… se uma pessoa que já tem a capacidade de planejamento, estruturação e aprofundamento consegue encontrar o ideal entre essa preparação e o ‘deixar fluir’ ela se torna muito mais eficiente e eficaz no que se propõe, pois afinal passa a contar com mais recursos. O exemplo que contei foi um caso claro disso, pois a pessoa não teve de desenvolver nada, mas apenas de tirar as interferências do caminho e se propor a fazer aquilo que a neurociência já ensina, liberando espaço para as associações livres e a criatividade acontecerem. Para ela deu super certo!

Se você for uma pessoa que está acostumada a planejar muito e a depender demais emocionalmente disso, quem sabe não vale a pena fazer um teste para ver se sua espontaneidade, criatividade, capacidade de fazer associações livres surgem e você descobre um potencial que nunca imaginou ter?

Para essa cliente valeu a pena!

É isso aí.

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