Liderança vulnerável? Pois é… já falei sobre isso antes, mas este texto foi motivado por algo que aconteceu comigo… algo recente que me fez praticar esse conceito.
Nos reunimos para uma capacitação da R122 e toda equipe participou de um jogo, porque queríamos fazer um trabalho interno de laboratório. Em algum momento no final do jogo eu me deparei com algumas dificuldades minhas, o que me fez ficar frustrada, irritada e nervosa, e isso foi super legal. Mas, o que não foi legal (pelo menos pra mim, rs) foi o fato de que uma pessoa gravou justamente um momento em que eu estava irritada e postou nas redes sociais… super na boa, como normalmente fazemos. Só que esse ‘na boa’, naquele momento, envolvia uma exposição minha!
Mas, quando vi o vídeo e senti aquela exposição, parei para pensar em tudo o que acreditamos e pregamos, o que me levou não somente a não falar nada, mas também a compartilhar aquela postagem, claro que brincando comigo mesma.
Foi esse evento que me inspirou a escrever este texto… e, antes de discorrer um pouco mais, deixo o conceito de base que, para o que falarei aqui, vulnerabilidade é a capacidade que temos de expor nossas imperfeições, dificuldades e inseguranças.
Sabe, a neurociência diz que nosso cérebro detesta incertezas, bem como quando nos sentimos diminuídos com relação a outras pessoas (status), e também quando sentimos insegurança nas relações, especialmente as que mais valorizamos. Quando qualquer desses aspectos é afetado, nosso cérebro tende a entrar naquele movimento de ‘bater ou correr’, o que nos faz ter uma redução nas capacidades executivas e criativas, o que por sua vez nos leva a uma conclusão lógica de que somos mais produtivos e criativos quando não nos sentimos ameaçados.
Brené Brown, uma pesquisadora atualmente muito conhecida e respeitada, pesquisou os temas vergonha e vulnerabilidade ao longo de 10 anos. Apesar de ela ter focado num âmbito mais integral (e não só profissional), algumas conclusões podem acrescentar o que exploro aqui. Segundo seus achados, a vergonha surge principalmente quando temos medo de mostrar nossa imperfeição e ao medo que temos de não nos sentirmos pertencentes a determinado ambiente. Por outro lado, a vulnerabilidade, quando é nutrida, aumenta a conectividade e, consequentemente, afeta o incremento de aspectos como a criatividade (dentre outros).
Falei um pouco sobre neurociência e uma pesquisa. Qual é a conclusão que podemos chegar a partir daí? Se eu sou uma pessoa que se mostra mais perfeita e ‘superior’ aos outros, posso gerar uma sensação de ameaça no cérebro de outras pessoas por conta da questão do status. Além disso, o que provavelmente terei como resultado é a falta de aliança e conectividade com pessoas com quem trabalho e de quem preciso – tudo isso também gera a sensação de ameaça ao cérebro. Como resultado, nutro um ambiente menos criativo, produtivo e eficiente na parte de tomada de decisão, resolução de problemas, etc – característicos de nossas funções executivas.
Para comprovar um pouco de tudo isso na prática, trago o exemplo de um cliente. Ele passava por um momento em que precisava desenvolver e demonstrar mais vulnerabilidade para lidar com pares e gestores. Enquanto conversávamos ele se deu conta do quanto conseguia nutrir essa vulnerabilidade para baixo, e naquele contexto compartilhou que havia passado por uma recente avaliação do nível de comprometimento e produtividade da equipe e os índices estavam muito altos, tendo se dado conta de que muito disso, especialmente o comprometimento que impacta na produtividade, era resultado direto da vulnerabilidade dele desde o início daquelas relações.
Bom, mencionei até agora uma experiência minha, um pouco de neurociência, resultados de pesquisas e um fato que demonstra tudo isso na prática. Agora, o que quero dizer é o seguinte: ser vulnerável não é fácil e nos leva a grandes desconfortos, mas eu, particularmente, acredito muito numa liderança assim, por tudo que coloquei aqui. Acredito que, ao nutrirmos uma liderança vulnerável, chegaremos a ambientes mais criativos, produtivos, sem contar felizes… e por isso opto por me colocar neste tipo de situação de desconforto.
Mas… quando você começa a nutrir esse tipo de cultura, há pessoas pelo caminho que ainda estarão num nível de imaturidade que as levará a não entender sua vulnerabilidade, pois ainda vêm da mentalidade e crença de que líderes fortes são perfeitos e não têm fragilidades, nem erram. Esse tipo de pessoa inicialmente talvez não lide tão bem com sua vulnerabilidade e precise de ajuda e paciência para ‘entrar no fluxo’.
Para concluir… é verdade que ser vulnerável gera exposição, desconforto, e talvez não seja tão bem compreendida no início por alguns… mas, se você acreditar que vale a pena pelo que pode gerar no médio/longo prazo, com pessoas mais produtivas, criativas, felizes e eficientes, então tome coragem e comece. Seja vulnerável a partir de hoje.
E, para ajudar, deixo a pergunta: qual é um pequeno passo que pode dar hoje para se mostrar mais imperfeito, usando isso para gerar um ambiente muito melhor e mais produtivo? Ah… comunique seu intento… sempre ajuda no processo! Mas essa fica pra próxima.
É isso aí.