Imagine a cena: Você está andando num local aberto, sem civilização, e acabou sua água e comida. Você está com muita sede e aparecem três poços na sua frente. Um deles contém uma água suja e mal cheirosa, o outro está seco e o terceiro está cheio de uma água cristalina e pura.

Para matar sua sede e mantê-lo vivo, adiantará recorrer a qualquer um desses poços? Claro que não! Se você beber do primeiro, possivelmente ficará doente e só acelerará sua morte; se tentar beber do segundo, nem água conseguirá retirar; enquanto o terceiro será aquele que efetivamente atenderá sua necessidade e lhe dará o que verdadeiramente precisa.

Uma reflexão como essa é muito óbvia, principalmente quando não estamos delirando e conseguimos perceber à distância a situação e chegamos à conclusão de que não faz sentido tentar tomar água pura em poço que não a tem. Mas, é curioso pensar que no dia a dia essa não é uma realidade que vivemos em situações muito mais simples e triviais.

Vejo as pessoas lidarem constantemente com frustrações porque alguém não agiu, reagiu, pensou ou se comportou do jeito que era esperado. Seja alguém que não foi reconhecido, ou uma pessoa que esperava um alinhamento claro que não aconteceu, ou ainda um indivíduo que foi submetido a uma comunicação dura quando o que esperava era um abraço… seja qual for a situação, é incrível como às vezes nos comportamos de um jeito totalmente inverso ao bom senso óbvio no caso do poço.

Lidamos com as pessoas e esperamos que elas pensem e funcionem como nós, ou que atendam a nossas necessidades, sejam elas quais forem… mas, não paramos pra pensar que ‘poço vazio não dá nenhum tipo de água; e poço contaminado não mata sede de ninguém’. Há pessoas que esperamos que nos tratem com cuidado, quando elas simplesmente não sabem como fazê-lo; ou pessoas que esperamos que sejam organizadas, quando elas simplesmente não sabem como fazê-lo; ou, ainda, esperamos um pensamento claro e estruturado de pessoas que… bom… simplesmente não sabem como fazê-lo.

E daí vem o título desse texto… esperamos das pessoas coisas que elas não têm, e ninguém dá o que não tem, não é mesmo?

Conversava com uma cliente esses dias que compartilhou comigo um momento de grande libertação para ela. Ela é uma das pessoas mais planejadas e organizadas que já conheci e, na gestão de sua equipe, acabava ficando extremamente frustrada quando as pessoas não agiam como ela. Durante grande tempo ela ‘lia’ essa situação como descaso, até que alguém a ajudou a perceber que não se tratava de descaso, mas sim de ‘não saber como fazer’.

Até aquele momento minha cliente nem percebia a força que tinha nessa área e muito menos que isso poderia ser diferente para outras pessoas, já que para ela era algo tão simples e natural. E foi só percebendo a si mesma e aos outros que pôde alinhar suas expectativas e inclusive pensar em planos de ação para desenvolver sua equipe.

E você? Como tem sido sua expectativa no dia a dia? Você tem esperado que as pessoas lhe deem o que elas não têm?

Minha sugestão para hoje: teste parar de viver na ilusão de que dá pra beber água onde não dá. Alinhe suas expectativas, conheça melhor a si mesmo e às pessoas ao seu redor, e gerencie suas necessidades, atendendo-as em poços que contêm água potável e cristalina.

É isso aí.

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