
“Você segura na mão… dá o exemplo e orienta. Depois você deixa voar, pra então chamar à responsabilidade” Essa foi a conscientização que verbalizou uma cliente, empresária de grande sucesso e cuja trajetória foi de total autossuperação ao longo da vida.
Essa conscientização surgiu numa conversa quando se deu conta que passou toda sua vida profissional tratando seus (hoje milhares) de colaboradores quase como filhos pequenos – desde a forma de tomar a frente das decisões, passando pelo dizer o que fazer e entrar na execução, até as broncas quando as coisas não aconteciam como queria ou o ‘passar a mão na cabeça’ em outras circunstâncias.
E justamente porque estava entrando num nível de estresse muito alto, essa cliente começou a dar um passo para trás na sua necessidade de controle, deixando mais espaço para que as pessoas atuassem a partir do que acreditava já terem aprendido após tantos anos sob sua orientação e microgestão.
Qual não foi sua surpresa ao perceber que, apesar de adultos em idade, muitos deles acabaram não crescendo e se acomodaram sob suas ‘grandes asas’, especialmente por já terem ganhado muito dinheiro. Aliás, mais do que isso, a ‘missão do negócio’, repetida incansavelmente por essa empresária ao longo dos anos, claramente não foi absorvida por grande parte de sua equipe, o que gerou nela enorme frustração.
Sabemos que dentre os grandes desafios de um verdadeiro líder está a capacidade de harmonizar a execução (quando ele deve entrar direto no ‘fazer’), a consultoria (quando ele pode dizer o que quer, sem acompanhar a equipe na condução), a mentoria (quando ele diz o que fazer e acompanha no desenvolvimento) e o coaching (quando ele usa diferentes habilidades para facilitar o amadurecimento de sua equipe).
E a necessidade de harmonizar esses quatro estilos é mais que importante – ela é vital. Mas por quê? Porque além do próprio gestor correr o risco de entrar em burnout (síndrome de exaustão causada pelo esgotamento físico, mental e emocional decorrente da atividade profissional) quando não ensina sua equipe a pensar e se autorresponsabilizar, a equipe tende a ficar infantilizada e ter seu crescimento e desempenho limitados ao longo do tempo – assim como ocorreu com minha cliente e sua companhia.
Se você é líder de qualquer equipe – grande ou pequena – sem perceber corre o risco de agir como minha cliente. Aliás, mais ainda, esteja em que estágio de desenvolvimento estiver, você até pode ser alguém que se comporta como os colaboradores aqui descritos. Pense um pouco… será que você é uma pessoa que se infantiliza e infantiliza os outros, ou é alguém que se autorresponsabiliza e estimula as pessoas a se responsabilizarem?
Alguns pontos podem ajudá-lo a ter uma autochecagem de onde você está. Pense em cada ponto e se dê nota de 1 a 5, sendo 1 = criança e 5 = adulto. O que estiver no meio é seu grau de avanço a partir de seus próprios referenciais:
- Desculpas – uma criança dá desculpas para quando não consegue atingir as expectativas alheias, pois não suporta lidar com ‘cara feia’; um adulto busca aprender com o processo, entendendo que não poderá acertar sempre.
- Lidar com a vida de frente – a criança se distrai facilmente com o que traz prazer imediato, tendo pouca autogestão para se focar em objetivos maiores; o adulto consegue gerenciar seus desejos e balanceá-los na busca por objetivos maiores.
- Responsabilização – a criança tende a achar culpados para o que não dá certo, ou mesmo contar inverdades para se livrar das consequências; o adulto percebe a situação, analisa responsabilidades, aprende com os erros e alinha para aplicações futuras.
- Lidar com o desconforto – a criança evita qualquer tipo de desconforto e se torna defensiva ou reativa quando ele é inevitável; o adulto sente o desconforto, mas foca na busca pela solução e o aprendizado por trás dele.
- Honestidade consigo mesmo – a criança não tem maturidade para entender suas dores e tenta ser perfeita sempre; o adulto é honesto em se avaliar e busca avançar em sua vida com base em valores que o norteiam, e não somente em suas capacidades.
- Competição – a criança tem a necessidade do ‘meu’, do ‘agora’ e da autoafirmação, o que a faz altamente competitiva; o adulto mantém uma perspectiva mais ampla das situações e se pauta em valores para conduzir as relações.
É constante vermos as pessoas não se responsabilizarem pelo que fazem e culparem um milhão de coisas pelo seu insucesso, ou insucesso de suas atribuições. O que mede o crescimento não é a idade, nem mesmo a experiência que essa pessoa teve… mas o que ela aprendeu com o que viveu durante sua vida e quão aberta ao aprendizado continua sendo.
E por vezes seremos mais maduros, e outras menos… o importante é seguir avançando sempre.
E com essa reflexão em mente, deixo essa sugestão – em suas próximas interações profissionais, pergunte-se: ‘Estou agindo como criança ou como adulto?’ – e a partir de sua conscientização, busque agir em conformidade com a maturidade que deseja ter e aprenda a ser sua versão adulta.
É isso aí.