O que você entende da expressão ‘andar no automático’?
Pra nós tem relação com o tal do ‘deixar a vida me levar’, permitindo que as correrias e demandas da vida nos conduzam e percamos a capacidade de ser intencionais na escolha de como queremos lidar com cada situação. Mas por que será que isso existe?
Existe um circuito em nosso cérebro chamado ascendente que atua sem parar fazendo processamentos neurais de forma inconsciente. Esse circuito gasta menos energia (essencial para nossa sobrevivência), nos ajuda na autoproteção imediata e nos ajuda a criar memórias que nos permitem lidar com a vida de uma forma geral. Além disso, ele automatiza coisas o tempo todo, sejam comportamentos, pensamentos, etc.
Quando lido com determinada situação com menos consciência e intencionalidade, os circuitos automáticos que já fazem parte de meu funcionamento responderão àquela demanda… bem… de forma automática. E como tudo tem prós e contras, aqui não é diferente. Se por um lado essa resposta automática é positiva por diversos motivos (como o menor gasto de energia e a resposta imediata ao perigo verdadeiro, por exemplo), por outra isso pode nos fazer deixar de questionar algumas coisas e ser intencionais na forma como vamos lidar com elas.
Assim, o contra aqui é que, ao permitir que apenas nossos circuitos ascendentes respondam por nós, permitimos que ‘a vida decida por nós’… e com isso deixamos de escolher como responder às pessoas, aos desafios, às demandas… Deixamos também de planejar com clareza e intencionalidade sobre nossas próprias vidas e eventualmente nos tornamos vítimas, colocando a responsabilidade de nossas frustrações em ombros alheios (eventos, pessoas, etc.)
Como você sabe, trabalhamos com gente e desenvolvimento. E é constante aparecer entre as pessoas a necessidade de desenvolver uma maior e melhor capacidade de gerenciar os movimentos conscientes – ou circuito descendente, para ter maior nível de gestão sobre as próprias vidas. Aliás, isso acontece com elas, comigo e com todo mundo! A grande questão é que, se por um lado automaticamente nos desenvolvemos e vivemos – o que é bom -, por outro podemos escolher mais e com isso aproveitar o melhor de todos os recursos que temos (conscientes e inconscientes).
Estou trabalhando com uma cliente há pouco tempo, mas já tenho percebido essa movimentação. No início eu perguntava sobre suas questões e ela respondia repetidamente ‘já sei disso’. Com esse padrão, pedi que ela pegasse um papel e escrevesse tudo que já sabia, o que inicialmente parecia algo muito sem sentido para ela. No entanto, quando fez aquele pequeno movimento imediatamente percebeu com muito clareza seus próprios pensamentos e sentimentos, percebendo também que não sabia muitas coisas, ou que coisas que sabia eram falaciosas, ou ainda que coisas que sabia teriam de ser levadas ao próximo passo – da ação.
Ou seja, enquanto dentro do movimento automático parece que nada mais poderia ajudá-la porque ela ‘já sabia tudo’, quando se deu a chance de parar, anotar e olhar, o grau de consciência e nível de insights aumentou e muito, o que impactou tanto a clareza imediata que teve sobre determinados pontos, como também a fez perceber seu funcionamento e como ele não a ajudava, iniciando um movimento de ajuste em sua própria forma de ser.
Pois é… essa é uma dica importante pra todo mundo.
E você? Como tem conduzido a vida? De uma forma mais automática, talvez se enganando de que você está fazendo escolhas e/ou já sabe de tudo? Ou você tem se treinado a parar e refletir sobre as situações para poder tanto aproveitar do que seu cérebro já tem registrado, como escolher os caminhos mais produtivos para levá-lo onde busca chegar?
Sim, existem formas para treinarmos nosso cérebro. Então, se você se sente hoje no automático sugiro que pare e respire. Hoje você pode tanto começar a fazer um movimento mais amplo de vida, como adotar raciocínios para situações imediatas.
No sentido mais amplo, sugiro que separe um tempo para escrever e se conscientizar dos processos que estão automáticos na sua vida. Onde você sente que escolhe mais e onde sente que escolhe menos? Por quê? E o que precisa ajustar?
Já com relação às situações imediatas, a partir de hoje você pode se acostumar a fazer algumas perguntas quando sentir que está indo no automático: A que vou responder? Como vou responder? O que já percebo, sinto, sei? E como vou lidar com tudo isso?
E, se precisar de algo, estamos por aqui!
É isso aí.