Você já parou para perceber como, enquanto algumas pessoas estão sempre buscando opiniões e referenciais externos, outras por vezes são tão seguras do que pensam a respeito das coisas que quase não consideram – ou mesmo conseguem acessar – o que os outros pensam ou acham sobre essas mesmas coisas?

Vejo isso acontecendo o tempo todo… aliás, eu mesma fui um exemplo claro das pessoas que buscam sempre referenciais externos. Estava sempre buscando o que as pessoas achavam de mim, o que elas acreditavam que era certo que eu buscasse, fizesse, valorizasse. E com isso eu me desconectava totalmente de quem verdadeiramente era. Por outro lado, vejo muitas pessoas com excesso de otimismo e uma autoavaliação superdimensionada, enquanto a percepção da visão externa se mantém míope, o que também representa um risco em potencial.

Seja lá como for, quando um desses dois extremos ocorre a pessoa pode cair num erro sobre suas concepções, pois não há como ter uma autoanálise totalmente isenta e objetiva, e nem há sustentabilidade e coerência em alguém que sempre se baseia em referenciais externos, que são muitos e muitas vezes dissonantes entre si.

Existe uma ferramenta bastante conhecida chamada Janela Johari (concebida por Joseph Luft e Harry Ingham) que traz um gráfico baseado em quatro quadrantes: a Arena, que representa o que tanto eu como as pessoas veem em mim; o Ponto Cego, que representa o que as pessoas veem em mim, mas eu não enxergo; o Eu Fechado, que mostra o que eu vejo em mim mesmo, mas outros não percebem; e o quadrante Desconhecido, referente a todo potencial que ainda não foi descoberto. É uma espécie de 360 do indivíduo organizado de uma forma bem pragmática.

O maior valor dessa ferramenta, na minha opinião, é que a pessoa possa aumentar o nível de seu autoconhecimento, mas de uma forma genuína e realista. Além disso, o mais interessante é que tudo aquilo que está no Ponto Cego e no Eu Fechado possa fazer parte da Arena – ou seja, que se obtenha um balanço entre o que eu percebo sobre mim mesmo e o que os outros percebem.

E, apesar de acabar de mostrar que o balanço é o que desejamos atingir, hoje quero focar mais na nossa escuta ao que conseguimos perceber internamente. Explico.

Tenho um cliente que tem a tendência de se focar mais no referencial externo e, em dado momento, ele recebeu um feedback sobre ser considerado como sucessor de seu líder. Após a comemoração inicial, surgiu a boa preocupação de começar a se preparar de forma proativa para a cadeira quando surgisse… e para isso veio a reflexão: “Acho que vou conversar com meu gestor para saber o que preciso desenvolver para estar pronto”

Apesar de não haver qualquer problema na frase que falou, após alguma investigação percebi que esse era o único referencial que estava sendo considerado, o que me levou a perguntar: “Mas o que você já sabe?”

Antes de falar do desfecho dessa conversa, compartilho aqui que o nosso cérebro registra informações o tempo todo, o que tanto nos dá conhecimento de fato, como nos confere aquilo que chamamos de intuição. Assim como já mencionamos em outros compartilhamentos da R122, intuição não é nada místico – mas algo científico que explica o que nosso cérebro já registrou e os sinais inconscientes correlatos que ele nos aponta quando percebe situações aparentemente conhecidas – por meio de sensações, ‘fazer sentido’, entre outros. E, apesar de algumas informações registradas no inconsciente poderem estar incompletas e eventualmente nos levarem a conclusões equivocadas, é muito importante ‘escutar o que já sabemos’ como base tanto para checar o que receberemos do externo depois, como o que escutamos dele antes.

Voltando para meu cliente, após minha pergunta acessamos o que ela já sabia…

“Creio que quanto mais alto o cargo, menos técnica e mais gestora a pessoa é. O foco deve estar mais no desenvolvimento e na política. Saber lidar com as pessoas, motivar as pessoas, mas não ocupar o lugar delas. Boa capacidade de negociação. Não pode ser inseguro e tem de ter empatia”

O curioso é que ele falou aspectos de gestão que estão presentes em literaturas referenciais sobre o tema… e estava tudo ali… dentro ele; enquanto buscava referências externas. A partir dali ficaria muito mais fácil e eficiente conversar com seu gestor, pois sua ‘Janela Johari’ estaria balanceada.

É… assim como nesse exemplo, o fato é muitas vezes temos informação e já sabemos algumas respostas que achamos não saber… só não nos damos conta disso.

Pare e pense agora numa situação que está vivendo e não sabe muito bem a resposta… deixe fluir o que vier a partir dessa pergunta: “O que você acha sobre isso?” Se for uma situação com um amigo ou colega e você não sabe o que aconteceu, pergunte: “O que eu acho que aconteceu?” Se for algo que deu errado e você não consegue achar a resposta: “O que eu acho que deu errado?” Se for uma resposta que você precisa para caminhar em um projeto: “O que eu acho ser necessário?” – e por aí vai.

Como concluímos nesse texto, buscar somente seu referencial interno pode ser falho – mas buscá-lo como um ponto de partida ou de checagem pode ajudá-lo a ter muito mais clareza na vida… em qualquer aspecto que seja. Ah, e o cérebro ama ter clareza a respeito das coisas!

Teste… e aproveite os resultados!

É isso aí.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *