Neste texto trataremos de um aspecto importante na comunicação e liderança que é o posicionamento que gera gerenciamento.

E, para começar, retomo algumas questões que conhecemos e já abordamos em materiais anteriores, referente a alguns aspectos do funcionamento automático do cérebro: minimizar possíveis ameaças, maximizar recompensas e poupar energia. Além disso, também quero trazer à lembrança o fato de que cérebros, apesar de aparentemente parecidos, são bastante diferentes nas arquiteturas de conexões neurais, o que faz com que as pessoas percebam e interpretem as coisas de forma muito única.

Ok… mas qual o efeito prático disso no dia a dia?

Veja, em todo e qualquer relacionamento, seja profissional ou pessoal, sempre haverá percepções e interpretações distintas a respeito do que se vive, fala, e etc. Por isso, inclusive, é tão importante se preocupar com o alinhamento de entendimento quando estamos diante de assuntos mais relevantes.

E, por termos essas interpretações únicas e o cérebro estar sempre buscando prever o futuro e nos livrar de possíveis riscos, é natural que as pessoas interpretem automaticamente tudo que as impacta, mesmo quando não se dão conta… e, o pior, de forma geralmente negativa, uma vez que o cérebro quer evitar possíveis perigos e por isso busca olhar para eles quando não entende algo.

Percebe o potencial ‘boi na linha’ em algumas situações? Quando foi a última vez que viu que alguém importante para você estava com a cara mais fechada e automaticamente não ficou preocupado de ser algo que dissesse respeito a sua relação com essa pessoa? E quando você foi impactado negativamente pela decisão de alguém e automaticamente não ficou indignado com a intenção da pessoa?

Só que o problema é que, em ambos os casos, talvez as situações não tivessem sido causadas por nada que dissesse respeito a você, embora o impactassem… Talvez na primeira situação a pessoa tivesse preocupada com uma questão financeira e, na segunda, uma decisão que teve de tomar por alguma orientação vinda de outra esfera… E, em ambos os casos, você pode ter sido muito injusto, simplesmente por ter uma interpretação única do que vê e sente.

E, o pior desses cenários é que não apenas existe o entristecimento de indivíduos e possível estremecimento de relações e alianças, mas também acontece um impacto na produtividade das pessoas, que ficam muitas vezes distraídas emocionalmente com coisas que na verdade nem existem.

É justamente por isso que um líder tem de saber se metacomunicar. Ou seja, toda vez que um comportamento ou decisão puder impactar as pessoas a seu redor, ele precisa aprender a comunicar com clareza aquilo o que está por trás do contexto – como alguém que descreve uma cena; uma história. E deixo pelo menos dois exemplos de quando e como isso pode ser feito, bem como os efeitos esperados.

1. Situações de vulnerabilidade

Líderes são, antes de tudo, seres humanos e, como tais, têm dúvidas, inseguranças, lutas e fraquezas como todo mundo.

Viemos de um passado em que figuras de liderança tinham de ser vistas como ‘todo-poderosas’, como infalíveis e sabedoras de todas as coisas, não havendo espaço para se ser humano.

E daí vinha um grande problema, que era justamente a chuva de interpretações (geralmente negativas) de pessoas que percebiam quando o ‘chefe’ chegava de cara feia e eventualmente ficava impaciente e respondia de forma mais ríspida do que o usual. E isso gerava a típica cultura do ‘mimimi’, que pode ser desenhada assim… o chefe chega bravo, todo mundo fica com medo, a comunicação, a aliança e a produtividade caem… e a rádio corredor rola solta. Olha só quanta distração por conta de uma expectativa distorcida sobre a figura do líder e a incompreensão de sua humanidade.

E por isso é importante… aliás, diria essencial, que o líder saiba compartilhar com as pessoas que são por ele impactadas quando está passando por alguma situação de maior fragilidade, o que pode alterar seu habitual modus operandi, sua energia, forma de comunicar, etc.

E aqui não digo expor o problema em si e nem ser dramático a respeito dele, mas comunicar às pessoas de forma clara e intencional que há um motivo estranho a elas que está gerando um comportamento diferente em você. Assim, quando o cérebro delas perceber sua mudança, saberá que não se trata de uma ameaça e manterá fluxo e foco no que realmente importa.

2. Quando você se mover de maneira diferente

Suponha que você, como líder, decide testar novos movimentos para incrementar o trabalho da equipe, ou até mesmo começa a agir diferente para desenvolver alguma competência que julga necessária em si mesmo.

É claro que os seus movimentos impactarão a dinâmica de todos e podem ser interpretados pelo cérebro das pessoas mais ou menos nessa linha: “Opa, tem alguma coisa estranha. Ele/a está agindo diferente… não é o que conheço… será que está vindo alguma ameaça por aí? Talvez melhor me defender!

Ou seja, se as pessoas não entenderem o que estiver por trás de seu movimento, existe grande chance de haver um efeito colateral totalmente indesejado. E, o que pode impedir isso (nem só minimizar, mas impedir mesmo!) é a metacomunicação. Ao comunicar para as pessoas que um movimento está sendo feito para seu próprio desenvolvimento ou para melhoria do trabalho ou resultados, traremos a segurança que o cérebro precisa para continuar com foco no que importa.

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Coloquei aqui duas possíveis situações, mas o importante é você sempre estar atento quando um movimento seu impactará as pessoas, sendo que seu posicionamento a respeito poderá ser um divisor de águas para garantir a construção de alianças e geração de produtividade.

O que nós queremos é ter a condição de ajudar o cérebro do outro a não ler a nossa atitude, nossa mudança, nossa diferença, como uma potencial ameaça – por isso posicionamos, mostramos o que está acontecendo. E, ao saber o que está acontecendo, o cenário será muito mais positivo, uma vez que os diferentes filtros e interpretações neurais serão alinhados e ajustados.

Comece a testar a partir de hoje e veja a diferença ao seu redor.

É isso aí.

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